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ANÁLISE-Mercado automotivo no Brasil é alerta para política tarifária dos EUA

Reuters15 de abr de 2025 às 19:13

Por Luciana Magalhaes e Alberto Alerigi Jr.

- Quando o Brasil aumentou as barreiras comerciais em seu mercado automotivo há mais de uma década, o governo prometeu mais produção local, empregos confiáveis e carros melhores.

Em vez disso, montadoras abriram e depois fecharam fábricas, acabando por cortar empregos e reduzir a produção. Atualmente, os brasileiros pagam 50% a mais pelos mesmos modelos que seus pares regionais, e as tecnologias geralmente ficam atrás dos mercados globais.

Enquanto o setor automotivo dos EUA enfrenta as grandes tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, executivos e analistas traçam paralelos com o Brasil, que já foi o quarto maior mercado automotivo do mundo e agora é um estudo de caso sobre os perigos do protecionismo.

Philipp Schiemer, ex-presidente da Mercedes-Benz MBGn.DE no Brasil e na América Latina, aprendeu algumas dessas lições da maneira mais difícil ao abrir uma fábrica no interior de São Paulo para produzir carros de luxo, que foi fechada em 2020.

"Acho que o Brasil é um bom exemplo para avaliar os efeitos das políticas protecionistas", disse Schiemer, que agora trabalha na empresa de consultoria Mirow & Co e alertou sobre as ineficiências causadas pelas tarifas. "Os mercados protegidos tendem a ficar para trás."

Com a economia brasileira aquecida em 2011 e a moeda se firmando, um aumento nas importações de veículos assustou o governo da então presidente Dilma Rousseff, cujo partido, PT, tem laços de longa data com sindicatos de trabalhadores do setor automotivo.

Na época o governo Dilma aumentou Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos percentuais sobre veículos importados e reduziu taxação de veículos fabricados localmente, ao mesmo tempo em que exigiu o congelamento dos cortes de pessoal no setor.

Essas políticas, combinadas com regras de conteúdo local em uma lei de 2012, marcaram a mudança mais protecionista no setor automotivo do Brasil desde que ele começou a se abrir na década de 1990.

As importações diminuíram e a produção local aumentou brevemente para um recorde de 3,71 milhões de veículos em 2013. Diante da escolha entre ceder participação de mercado ou construir novas fábricas no Brasil, várias montadoras optaram por abrir linhas de montagem locais, inclusive a Mercedes-Benz.

Mas muitas delas tiveram dificuldades para reproduzir a eficiência de suas cadeias de suprimentos no exterior. À medida que a inflação aumentava e a economia esfriava, a demanda doméstica diminuía. Mas poucas fábricas brasileiras eram competitivas o suficiente em termos de custos para aumentar as exportações para outros mercados.

A Mercedes-Benz logo jogou a toalha, fechando sua única fábrica de automóveis no Brasil após quatro anos. Um ano depois, a Ford Motor F.N fechou sua fábrica em São Paulo após um século no país.

A indústria automotiva brasileira produziu 2,55 milhões de veículos no ano passado, ainda um terço abaixo do pico de 2013. O emprego no setor caiu cerca de 20% no mesmo período.

COMPETITIVIDADE DEFASADA

Analistas disseram que o protecionismo não é a única coisa que aflige o setor automotivo brasileiro. Os custos mais altos de capital, materiais e mão de obra colocam o país em uma posição menos favorável.

"Em um país com recursos limitados como o Brasil, é necessário algum nível de proteção comercial", disse o analista do setor Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting.

A pesada carga tributária dificulta ainda mais a concorrência. A analista automotiva Tereza Fernandez estima que os impostos em toda a cadeia de suprimentos representam um terço do preço de um carro no Brasil.

Um estudo de 2019 da PwC Brasil, divulgado pelo grupo de montadoras Anfavea, constatou que a produção de um veículo no México era 18% mais econômica do que no Brasil devido ao custo de materiais e logística. Levando em conta os impostos, a diferença aumentava para 44% para alguns tipos de veículos.

Não é de surpreender que o preço de um Toyota Corolla híbrido novo seja o equivalente a US$21.000 no México e US$34.000 no Brasil.

Os carros híbridos e elétricos também eram mais difíceis de encontrar no Brasil até recentemente. Os veículos elétricos e outras tecnologias estão entrando mais lentamente no mercado local devido à menor concorrência das importações.

Schiemer, ex-executivo da Mercedes-Benz, disse que os anúncios de tarifas dos EUA demonstram que nem todos aprenderam as mesmas lições da história recente do Brasil.

"A atual tendência protecionista me preocupa. Acho que vamos passar por momentos difíceis", disse ele.

((Edição Redação São Paulo, 55 11 56447753))

REUTERS AAJ

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