Por Catarina Demony
14 Abr (Reuters) - A vice-presidente da Colômbia, Francia Marquez, defensora das reparações pela escravidão, pediu que as antigas potências coloniais assumam a responsabilidade pelos erros cometidos no passado e solicitou um fundo global de reparações em um fórum das Nações Unidas nesta segunda-feira.
Em discurso de abertura da quarta sessão do Fórum Permanente sobre Povos de Ascendência Africana (PFPAD) em Nova York, Marquez disse que o fundo seria usado para ajudar a erradicar os legados da escravidão e do colonialismo, sem fornecer mais detalhes.
"Os Estados coloniais, os Estados que fomentaram... essa forma de dominação baseada na definição de raça têm que assumir a responsabilidade de restaurar a dignidade humana dos afrodescendentes", havia dito Marquez anteriormente à Reuters em uma entrevista.
Embora a questão das reparações tenha ganhado força em todo o mundo, da África ao Caribe, o mesmo ocorreu com a reação. Muitos dos líderes europeus se opuseram até mesmo a falar sobre o tema.
Célebre ativista ambiental, Marquez foi eleita em 2022 e é a primeira mulher negra vice-presidente da Colômbia.
Pelo menos 12,5 milhões de africanos foram sequestrados, transportados à força por navios europeus e vendidos como escravos entre os séculos 15 e 19. Centenas de milhares foram enviados para a Colômbia.
Marquez disse que muitos afro-colombianos ainda não têm direitos básicos, como acesso à saúde, moradia e educação superior, realidade que ela vê como um legado daquele período: "Continuamos a sofrer os danos e as consequências desse sistema."
Aqueles que se opõem às reparações argumentam, entre outras coisas, que os Estados e as instituições contemporâneas não devem ser responsabilizados por seu passado.
Mas os defensores dizem que é necessário agir para lidar com a herança deixada, como o racismo sistêmico e estrutural, e afirmam que os Estados contemporâneos ainda se beneficiam da riqueza gerada por centenas de anos de exploração.
No fórum, participantes vão discutir pedidos de reparação na era digital. O fórum diz que as desigualdades sistêmicas correm o risco de serem replicadas em tecnologias emergentes, como a inteligência artificial (IA).
O secretário-geral da ONU, António Guterres, em comentários de seu chefe de gabinete Courtenay Rattray, reiterou seu pedido de reparações e disse que era necessário "eliminar o preconceito" da IA.
"Até mesmo a IA, que é tão promissora para a humanidade, muitas vezes reflete e amplifica as mesmas desigualdades e preconceitos raciais que nos atormentam há séculos", disse Guterres.
Marquez disse que, embora a ONU tenha tomado medidas importantes na luta por reparações, é preciso fazer mais: "Não é suficiente para enfrentar os desafios do racismo sistêmico que a população ainda enfrenta."
A ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, estava entre outros políticos no fórum de quatro dias da ONU. Franco disse que a escravidão é um crime contra a humanidade e "deve ser enfrentada com coragem".
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Turk, também conclamou os Estados -- mas também empresas, universidades e grupos religiosos -- a "reconhecerem o que fizeram para perpetuar e lucrar com a escravidão e o colonialismo".
"O dano causado deve ser reparado", disse Turk.
(Reportagem de Catarina Demony em Londres;
Reportagem adicional de Michelle Nichols em Nova York)
((Tradução Redação Brasília))
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