Por Phil Stewart
CIDADE DO PANAMÁ, 8 Abr (Reuters) - O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, deve dar uma olhada de perto no Canal do Panamá nesta terça-feira, no início de uma rara visita a uma nação centro-americana ainda perturbada pelas ameaças do presidente norte-americano, Donald Trump, de retomar o canal.
Hegseth, o primeiro secretário de defesa dos EUA a visitar o país em décadas, chega em um momento particularmente delicado, já que o Panamá luta contra as profundas preocupações dos EUA em relação aos investimentos comerciais chineses ao redor do canal.
Ele também está visitando o país após relatos de que o governo Trump solicitou opções às Forças Armadas dos EUA para garantir o acesso ao canal, que os Estados Unidos construíram há mais de um século e entregaram ao Panamá em 1999.
Dada a retórica dura de Trump sobre a retomada do canal, os riscos são altos para a visita de Hegseth.
O Panamá estará atento a sinais da direção que ele quer dar ao relacionamento de segurança entre os EUA e o Panamá, e ao próprio canal, ao longo do qual os Estados Unidos já tiveram uma rede de bases militares.
"De modo geral, essa não tem sido uma questão vencedora para os Estados Unidos em termos de diplomacia pública no Panamá", disse Ryan Berg, diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Ainda assim, autoridades e especialistas americanos atuais e antigos dizem que os Estados Unidos encontraram no presidente do Panamá, José Raul Mulino, um parceiro disposto a combater a influência chinesa.
Em fevereiro, Mulino anunciou o movimento formal do Panamá para sair da iniciativa chinesa Nova Rota da Seda e ajudou na repressão de Trump aos imigrantes.
Ele aceitou voos de deportação de não panamenhos e trabalhou para conter a imigração da América do Sul por aqueles que atravessam a perigosa selva de Darien em seu país.
Hegseth não fez nenhum comentário público ao chegar ao Panamá na noite de segunda-feira.
Mas ele apoiou com entusiasmo a agenda de segurança de Trump voltada para o sul, por meios como o envio de tropas norte-americanas para a fronteira dos EUA com o México e a oferta de aeronaves militares para voos de deportação.
Trump alegou falsamente que a China está operando o canal e que soldados chineses estão presentes.
Mas os especialistas reconhecem as preocupações com a segurança dos EUA, principalmente em relação à espionagem, com uma presença comercial chinesa expansiva no Panamá, que também inclui planos de empresas chinesas para construir uma ponte sobre o canal.
No mês passado, Trump comemorou um acordo liderado pela empresa norte-americana BlackRock para comprar a maior parte do negócio de portos de US$22,8 bilhões do conglomerado de Hong Kong CK Hutchison, incluindo seus portos nas duas extremidades do Canal do Panamá.
Trump disse que a compra é um exemplo de como os Estados Unidos estavam "recuperando" o canal.
Mas a China a criticou, com o órgão regulador do mercado dizendo que realizará uma análise antitruste do acordo.
Autoridades atuais e antigas dos EUA dizem que o Canal do Panamá seria fundamental para a passagem de navios de guerra dos EUA durante qualquer conflito futuro na Ásia, já que os navios da Marinha transitariam do Atlântico para o Pacífico para apoiar o esforço de guerra.
Mesmo sem bloquear o canal, a China poderia ter uma enorme vantagem por ser capaz de vigiar os navios que passam por ele.
Ainda assim, John Feeley, que foi embaixador dos EUA no Panamá de 2015 a 2018, contestou a afirmação do governo Trump de que a presença da China no Panamá é uma violação do tratado entre os EUA e o Panamá.
"O que não é legítimo na maneira como Trump fez isso é a tática de intimidação que ele usou, que é alegar que houve uma violação do tratado de neutralidade. Não houve", disse Feeley.
Mulino defendeu a administração do canal pelo Panamá, dizendo que o canal foi administrado de forma responsável pelo comércio mundial, inclusive o dos Estados Unidos, e que "é, e continuará sendo, panamenho".
Mais de 40% do tráfego de contêineres dos EUA, avaliado em cerca de US$270 bilhões por ano, transita pelo Canal do Panamá, representando mais de dois terços das embarcações que passam todos os dias pela segunda hidrovia interoceânica mais movimentada do mundo.
(Reportagem de Phil Stewart)
((Tradução Redação São Paulo))
REUTERS ES