Por Anett Rios e Alien Fernandez
HAVANA, 24 Mar (Reuters) - Naydin Hernandez estava nesta segunda-feira na avenida Malecon, à beira-mar de Havana, chorando e rezando depois que seu sonho de se juntar à filha nos Estados Unidos parecia ter acabado.
"Deus sabe que sinto falta dela", disse Hernandez sobre sua filha de 21 anos. "Quero vê-la."
Hernandez havia solicitado entrada por meio de um programa de "liberdade condicional" lançado pelo ex-presidente democrata Joe Biden, que permitia que migrantes com um patrocinador residissem e trabalhassem temporariamente nos Estados Unidos.
Mas ela disse que suas esperanças certamente foram frustradas depois que o governo do presidente republicano Donald Trump confirmou na sexta-feira que encerraria o programa e revogaria o status legal temporário de 530.000 cubanos, haitianos, nicaraguenses e venezuelanos nos EUA.
Um rascunho de aviso do Registro Federal considerou o programa ineficaz e disse que ele havia ultrapassado os limites da legalidade.
O anúncio semeou confusão e desgosto entre muitos moradores da ilha caribenha comunista, que sofre com uma crise econômica contínua e está acostumada há muito tempo a políticas que favorecem sua entrada nos EUA em detrimento de outras nacionalidades.
Mais de 700.000 cubanos entraram nos EUA durante os quatro anos da administração Biden, de acordo com as contagens da Alfândega e Proteção de Fronteiras e do Departamento de Segurança Interna. Destes, não está claro quantos se inscreveram em programas que fornecem outra forma de proteção ou status legal. Mas muitos desses programas, incluindo aqueles projetados para facilitar um caminho para a cidadania para cubanos, foram congelados pela administração Trump em fevereiro e colocados sob revisão.
Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Rodriguez, disse que os EUA tentaram os cubanos para que eles migrassem, e depois os rejeitaram, chamando isso de "ato de cinismo cruel".
Dario Mendez, morador de Havana e estudante de engenharia de 20 anos, disse que muitos que ele conhecia "sacrificaram tudo" para migrar para os Estados Unidos.
Forçá-los a retornar agora, disse ele, seria injusto.
"Quando você pensa que eles estão progredindo, eles dizem que talvez você tenha que voltar", afirmou Mendez.
O vice-ministro das Relações Exteriores de Cuba disse à Reuters no início deste mês que qualquer aumento nas deportações para Cuba precisaria ser discutido com o governo da ilha, conforme acordos que datam de décadas.
No sul da Flórida, lar de uma grande comunidade cubano-americana, temores de que os recém-chegados pudessem ser deportados levaram a deputada republicana Maria Elvira Salazar a pedir que o governo Trump reconsiderasse, culpando Biden por colocar aqueles que buscam escapar de "regimes comunistas fracassados" em um limbo migratório.
"Trump deveria reconhecer essa realidade e não puni-los pelos erros de Biden", disse ela no sábado no X.
(Reportagem de Anett Rios e Alien Fernandez)
((Tradução Redação São Paulo))
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