MUNIQUE, 14 Fev (Reuters) - O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, encontrou-se nesta sexta-feira com a líder do partido de extrema-direita alemão AfD, Alice Weidel, informou o seu gabinete, após declarar apoio à legenda como parceira política, algo que Berlim classificou como uma indesejada interferência eleitoral.
Uma autoridade do gabinete de Vance não deu outros detalhes sobre o encontro, mas afirmou que ele se reuniu com líderes de todos os grandes partidos políticos alemães.
Um porta-voz da líder do AfD confirmou o encontro, dizendo que eles se encontraram no hotel de Vance por cerca de 30 minutos e discutiram a guerra na Ucrânia, a política interna alemã e a liberdade de expressão.
O AfD, que é contra a imigração e tem atualmente cerca de 20% dos votos nas pesquisas, antes das eleições gerais de 23 de fevereiro, possui status de pária entre as outras grandes legendas alemãs, país onde é a extrema-direita é um tabu, devido ao seu passado nazista.
Em uma política classificada como “firewall”, os partidos formaram um consenso de não trabalhar com o AfD, que atualmente está sendo vigiado pelo serviço de inteligência alemão.
Em aparente referência à palavra, Vance afirmou: “A democracia jaz no princípio sagrado de que a voz das pessoas importa. Não há espaço para firewalls”.
“Nenhum eleitor neste continente foi às urnas para abrir as comportas para milhões de imigrantes sem controle”, afirmou Vance nesta sexta-feira, durante a Conferência de Segurança de Munique.
Em entrevista à rádio Deutschlandfunk, que será transmitida no domingo, o chanceler alemão, Olaf Scholz, criticou os comentários de Vance, dizendo que são altamente incomuns. Ele lembrou que a Alemanha tinha um “firewall” contra partidos de extrema-direita por uma boa razão, citando o passado da Alemanha sob o nazismo.
O ministro alemão da Defesa rebateu nesta sexta-feira as críticas de Vance contra a Alemanha e as potências europeias, classificando-as como inaceitáveis.
“Esta democracia acabou de ser questionada pelo vice-presidente dos EUA, não apenas a democracia alemã, mas a da Europa como um todo”, disse nesta sexta-feira o ministro da Defesa, Boris Pistorius, durante a conferência em Munique. "Se eu o entendi bem, ele compara a condição da Europa com o que ocorre em alguns regimes autoritários. Isso não é aceitável."
O líder conservador Friedrich Merz, que segundo pesquisas deve se tornar o próximo chanceler alemão, foi acusado pelos rivais, no mês passado, de quebrar o acordo do “firewall” e iniciar moções parlamentares que previam o apoio do AfD. Mas ele também negou a possibilidade de formar um governo com a legenda de extrema-direita.
Mais cedo nesta sexta-feira, um porta-voz do governo alemão afirmou que Vance não deveria interferir na eleição alemã. “Não acho que é certo que estrangeiros, incluindo aqueles de países amigos, interfiram tão intensamente em uma campanha no meio do período eleitoral”, afirmou o porta-voz em coletiva de imprensa.
O bilionário Elon Musk, maior doador da campanha do presidente dos EUA, Donald Trump, e agora chefe de uma força-tarefa para cortar os gastos do governo norte-americano, tem apoiado publicamente o AfD.
(Reportagem de Ludwig Burger, Riham Alkousaa, Andreas Rinke e Andrey Sychev)
((Tradução Redação São Paulo))
REUTERS PVB