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Alegria de palestinos com cessar-fogo em Gaza diminui com ruínas e escavações em busca de mortos

Reuters21 de jan de 2025 às 17:30

Por Nidal al-Mughrabi e Dawoud Abu Alkas e Ramadan Abed

- A pé ou em riquixás, palestinos exaustos pela guerra em Gaza começaram a retornar às ruínas de suas casas no terceiro dia de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, chocados com a destruição total.

A trégua entrou em vigor no domingo, após 15 meses de conflito, com a entrega dos três primeiros reféns mantidos pelo Hamas e a libertação de 90 palestinos das prisões israelenses.

Agora, a atenção se volta para a reconstrução do enclave costeiro, reduzido a vastas extensões de escombros pelo Exército israelense em sua campanha para eliminar o Hamas, em retaliação ao ataque do grupo militante a Israel em 7 de outubro de 2023.

Alguns habitantes de Gaza não conseguiam nem mesmo reconhecer onde moravam e deram as costas aos bairros destruídos para voltar às barracas onde se abrigaram nos últimos meses. Outros começaram a limpar os escombros para tentar voltar aos destroços de suas casas.

"Estamos limpando a casa e removendo os escombros para podermos voltar para casa. Esses são os edredons, travesseiros, nada foi deixado na casa", disse a palestina Walaa El-Err, apontando para seus pertences destruídos durante bombardeio em Nuseirat, um campo de refugiados com décadas de existência no centro de Gaza.

Segundo ela, a sensação de retornar ao bairro era "indescritível". Ela disse que ficou acordada a noite toda no sábado esperando que a trégua entrasse em vigor no dia seguinte. Mas o otimismo em torno da notícia de um cessar-fogo se desvaneceu.

"Quando entrei no acampamento, chorei, pois nosso acampamento não era assim, era o melhor. Quando saímos, todas as torres (e) casas ainda estavam intocadas, e nenhum dos vizinhos havia sido morto", lamentou.

Na Cidade de Gaza, no norte do enclave, Abla, mãe de três filhos, esperou algumas horas para se certificar de que a trégua seria mantida no domingo, antes de ir para sua casa no subúrbio de Tel Al-Hawa, demolida por bombardeios e ofensivas terrestres israelenses.

A cena era "horrível", disse ela, pois o prédio de sete andares havia sido arrasado, "esmagado como um pedaço de biscoito".

"Ouvi dizer que a área foi duramente atingida e que a casa poderia ter desaparecido, mas fui movida tanto pela dúvida quanto pela esperança de que ela poderia ter sido salva", disse ela à Reuters por meio de um aplicativo de bate-papo.

"O que encontrei não foi apenas uma casa, mas uma caixa de lembranças, onde tive meus filhos, comemorei suas festas de aniversário, fiz comida para eles e lhes ensinei suas primeiras palavras e movimentos", disse.

Algumas pessoas montaram barracas ao lado dos escombros de suas casas ou se mudaram para casas destruídas, perguntando-se quando deve começar a reconstrução.

Uma avaliação de danos das Nações Unidas divulgada neste mês mostrou que a limpeza de mais de 50 milhões de toneladas de escombros deixados após o bombardeio de Israel poderia levar 21 anos e custar até 1,2 bilhão de dólares.

Para piorar a situação, é possível que alguns dos escombros estejam contaminados com amianto, pois alguns dos campos de refugiados devastados de Gaza, transformados em cidades desde a década de 1940, foram construídos com esse material.

As autoridades de saúde de Gaza afirmam que pelo menos 47.000 pessoas foram mortas no conflito, e que os escombros provavelmente contêm os restos mortais de milhares de outras.

Um relatório do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas afirma que o desenvolvimento em Gaza sofreu um retrocesso de sete décadas devido à guerra.

"Eles (os habitantes de Gaza) podem voltar para casa. ... É um pouco exagerado, eu diria, chamar isso de lares, porque na maioria das vezes, especialmente no norte, eles encontram montanhas de entulho. Portanto, eles precisam de ajuda com isso", disse Jens Laerke, porta-voz do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários, em uma coletiva de imprensa em Genebra nesta terça-feira.

ESCAVAÇÃO DE CORPOS

Equipes de resgate palestinas continuavam a busca por restos mortais de habitantes de Gaza enterrados sob os destroços de casas e ao longo das estradas, localizando pelo menos 150 corpos desde que a trégua entrou em vigor, de acordo com o serviço de emergência civil de Gaza.

Imagens chocantes de corpos em decomposição se espalharam nas mídias sociais. No cemitério de Shejaia, que havia sido arrasado por tanques e escavadeiras israelenses nos meses anteriores, vários homens cavaram o solo em busca dos túmulos de seus parentes.

"Tenho procurado e procurado o túmulo de meu pai, o túmulo de meu irmão e o túmulo da esposa de meu irmão, e não consigo encontrá-los", disse Atef Jundiya, no cemitério da Cidade de Gaza.

"Quero dizer, estamos aliviados com o cessar-fogo, mas, ao mesmo tempo, ainda estamos procurando nossos mártires e procurando nossos túmulos e não conseguimos encontrá-los", disse Jundiya à Reuters.

O serviço de emergência civil estima que 10.000 corpos permaneçam sob os escombros, solicitando maquinário pesado e veículos de terraplanagem para ajudar no processo de extração, que segundo expectativas das autoridades deve levar vários meses.

(Reportagem de Dawoud Abu Alkas, Emma Farge e Nidal al-Mughrabi)

((Tradução Redação Brasília))

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