WASHINGTON, 17 Abr (Reuters) - O aumento das tensões comerciais e as mudanças radicais no sistema de comércio global provocarão revisões para baixo nas previsões econômicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas não se espera uma recessão global, disse a diretora-gerente da instituição, Kristalina Georgieva, nesta quinta-feira.
Georgieva disse que as economias dos países estão sendo testadas por uma reinicialização do sistema de comércio global - desencadeada nos últimos meses pelas tarifas dos Estados Unidos e pela retaliação da China e da União Europeia - que provocou uma incerteza "fora dos padrões" na política comercial e extrema volatilidade nos mercados.
"As perturbações acarretam custos... nossas novas projeções de crescimento incluirão reduções notáveis, mas não recessão", disse ela em comentários preparados, acrescentando que a perspectiva também incluirá previsões de inflação mais altas para alguns países.
A incerteza elevada também aumentou o risco de estresse nos mercados financeiros, disse Georgieva, observando que os movimentos recentes na curva de rendimentos dos Treasuries devem ser considerados como um alerta. "Todos sofrem se as condições financeiras piorarem", disse ela.
O presidente dos EUA, Donald Trump, derrubou o sistema de comércio global com uma série de novas tarifas, incluindo uma taxa de 10% sobre produtos de todos os países e tarifas mais altas para alguns parceiros, embora essas últimas tenham sido pausadas por 90 dias para permitir negociações. A China, a UE e outros países anunciaram medidas de retaliação.
Em janeiro, o FMl previu um crescimento global de 3,3% em 2025 e 3,3% em 2026. O Fundo divulgará uma atualização de seu relatório Perspectiva Econômica Mundial na terça-feira.
Georgieva, falando na sede do FMI em Washington, antes das reuniões de primavera (na Hemisfério Norte) do FMI e do Banco Mundial na próxima semana, não forneceu detalhes sobre as revisões esperadas, mas alertou que a incerteza prolongada terá um custo alto.
Ela disse que as tensões comerciais já vinham se manifestando há algum tempo, mas agora estão em ebulição, e pediu aos países que respondam com sabedoria às "mudanças repentinas e abrangentes" observadas nas tarifas, levando a taxa tarifária efetiva dos EUA a níveis vistos há muito tempo e resultando em respostas de outros países.
"Enquanto os gigantes se enfrentam, os países menores são pegos pelas correntes cruzadas", disse Georgieva. A China, a UE e os EUA são os três maiores importadores do mundo, o que significa grandes repercussões para os países menores, que estão mais expostos a condições financeiras mais rígidas, disse ela.
PROTECIONISMO PREJUDICA A INOVAÇÃO
Segundo ela, o aumento das tarifas afeta o crescimento de imediato, observando que evidências anteriores mostraram que as taxas tarifárias mais altas são pagas pelos importadores por meio de lucros menores e pelos consumidores por meio de custos mais altos.
Em grandes economias, elas também podem criar incentivos para novos investimentos internos, criando empregos, mas isso leva tempo.
"O protecionismo corrói a produtividade no longo prazo, especialmente em economias menores", disse ela, alertando que as medidas para proteger a indústria da concorrência também prejudicam o empreendedorismo e a inovação.
Georgieva pediu aos países que continuem reformas econômicas e financeiras, mantendo uma política monetária ágil e confiável, bem como uma forte regulação e supervisão do mercado financeiro.
As economias de mercados emergentes devem preservar a flexibilidade de suas taxas de câmbio, e os países doadores devem proteger melhor os fluxos de ajuda aos países vulneráveis de baixa renda, acrescentou.
Georgieva também pediu cooperação em um mundo cada vez mais multipolar e insistiu para as maiores economias chegarem a um acordo comercial que preserve a abertura e reinicie uma tendência global de redução das tarifas e das barreiras não tarifárias.
"Precisamos de uma economia mundial mais resiliente, não de uma tendência à divisão", disse ela. "Todos os países, grandes e pequenos, podem e devem fazer sua parte para fortalecer a economia global em uma era de choques mais frequentes e severos."
(Por Andrea Shalal)
((Tradução Redação São Paulo, +55 11 5047-3075))
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