- O acordo Mercosul-UE gera preocupações na indústria metalúrgica brasileira devido ao possível aumento das importações de produtos europeus.
- O sindicato dos metalúrgicos questiona se as proteções para o setor automotivo são adequadas, alertando para a vulnerabilidade de diversos setores industriais.
- Representantes da indústria automotiva, como a Volkswagen, avaliam o impacto potencial do acordo, considerando a possível importação de veículos fabricados na Europa.
O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, divulgado recentemente, trouxe inquietação ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que teme um aumento nas importações de produtos industrializados europeus. A indústria brasileira já cobra há anos por medidas que melhorem sua competitividade. O diretor administrativo do sindicato, Wellington Damasceno, expressou, nesta quarta-feira, que o acordo favorece principalmente o agronegócio, levantando preocupações sobre o futuro do setor industrial.
Apesar do pacto incluir mecanismos de proteção para alguns setores, há receios de que as importações do setor industrial europeu possam crescer sem o devido controle. "A balança comercial pode continuar favorável para o Brasil, mas em termos de desenvolvimento tecnológico e qualificação de mão de obra, o impacto pode ser negativo a longo prazo", afirmou Damasceno.
O acordo foi concluído pouco depois de o governo federal implementar medidas de proteção para alguns setores industriais, focando inicialmente nos produtos chineses. Contudo, a liberação de tarifas entre a UE e o Mercosul, que ainda levará tempo para ser implementada, representa um novo desafio. Damasceno aponta riscos para setores como automotivo e químico, cujas matrizes estão em grande parte na Europa.
O setor industrial brasileiro tem respondido com cautela. A Anfavea destacou a parceria histórica com a Europa, enquanto a Sindipeças vê no acordo uma oportunidade para ampliar a participação brasileira nas cadeias globais de valor. Já a Fiesp acredita que o pacto proporcionará um diálogo produtivo para o comércio justo.
No contexto automotivo, Damasceno critica as medidas de proteção do acordo como insuficientes. O Brasil pode, temporariamente, suspender a liberalização tarifária do setor ou recuperar a alíquota de 35%, mas ele observa que a produção automotiva não se adapta rapidamente às mudanças, especialmente com a eletrificação em pauta.
A Volkswagen, representada por Damasceno no comitê mundial de trabalhadores, é um exemplo de empresa que enfrenta desafios de capacidade e demanda na Europa. Há uma possibilidade de que a produção de novos modelos e atualizações seja centralizada na Europa, importando para o Brasil sem taxas. Atualmente, a Volkswagen emprega 15 mil funcionários em suas quatro fábricas no Brasil, e a estabilidade no emprego até 2028 foi assegurada por um acordo com os sindicatos locais.
Damasceno ressalta que a operação brasileira goza de autonomia e bons resultados, sendo vista como modelo nas discussões de trabalhadores na Alemanha. O impacto do acordo Mercosul-UE, portanto, permanece uma questão crucial para o futuro da indústria no Brasil.