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Com piora no cenário fiscal, mercado logo falará em Selic a 14%, diz economista

Investing.com27 de nov de 2024 às 20:03

Investing.com – Com uma economia em crescimento robusto, expectativa de inflação acima da meta e risco fiscal, os economistas passaram a enxergar pico da taxa de juros Selic no ano que vem próximo de 13%, mas se as medidas fiscais do governo não agradarem, logo começarão a falar em 14%. Essa é a percepção do economista Sérgio Vale, economista-chefe MB Associados, que concedeu entrevista ao Investing.com Brasil nesta quarta-feira, 27 de novembro.

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A expectativa é de que os ativos fiquem ainda mais pressionados, na visão do especialista. “Esse anúncio fiscal hoje provavelmente, pelo jeito, vai ser bastante ruim pelas sinalizações que estão vindo até agora. É um sinal de um câmbio que vai ficar pressionado, está caminhando para já se aproximar de R$6 por dólar e isso vai colocar uma pressão grande em inflação nos próximos meses e vai dificultar muito a vida do Banco Central”, argumenta o economista.

Se a taxa de câmbio se aproximar mais de R$6 por dólar, as perspectivas para o ciclo de aperto monetário tendem a ser revisadas. “Então é um cenário que o governo aparentemente não entendeu os riscos fiscais que a gente tem hoje e está errando o passo de novo nessa questão fiscal, com as consequências em termos de câmbio, inflação e juros”, completa.

Após notícias na mídia indicando que o ministério da Fazenda pode anunciar isenção para imposto de renda de pessoas que ganham até R$5 mil, Sérgio Vale criticou a possível medida e afirma que ela representa um sinal de desgaste do governo.

“Então é o pior cenário possível. O governo demorou para tentar entregar um resultado fiscal adequado e vai entregar um resultado bem pior do que se imaginava”, reforça.

Confira a entrevista:

Investing.com – Qual a perspectiva para a divulgação do PIB na semana que vem, você espera o indicador mais ou menos robusto e por quais motivos?

Sérgio Vale – O crescimento deve vir forte, na casa de 4%, 4,1%, que é a nossa estimativa interanual, 0,8% na margem, deve dar um crescimento acima de 3% no ano, 3,2%. Então, é um cenário de crescimento robusto que a gente está vendo agora e até mais acelerado no terceiro trimestre do que foi no segundo, que foi um crescimento de 3,3%. Mas, obviamente, a gente precisa esperar porque terceiro trimestre tem muitas revisões dos dados do passado, então, é um pouco difícil a gente fechar e cravar, porque, em geral, tem revisões muito profundas dos dados anteriores e, às vezes, pode sair alguma coisa muito diferente.

Mas, a impressão, pelos dados secundários que foram divulgados até agora, é que a gente tem um cenário de crescimento, no interanual pelo menos, que muito provavelmente vai ser mais acelerado no terceiro trimestre do que no segundo. Isso eu acho que a gente vai conseguir ver. Na margem, por enquanto, 0,8% de estimativa.

Inv.com E quais que devem ser os principais drivers, na sua visão, Sérgio?

Vale – Ainda deve ser consumo das famílias, investimento, alguma coisa de consumo do governo e a indústria. A indústria, do lado da oferta, deve vir com resultado positivo, e também, de certa forma, os serviços.

Acho que só a agropecuária vai ainda continuar a entregar um resultado um pouco pior esse ano, mas a tendência é a gente ter um cenário de indústria, e de atividade no geral, que vai ser bastante positivo no terceiro trimestre, para praticamente todos os setores. Só as commodities que vão ter um desempenho provavelmente um pouco pior.

Investing.com – Foram divulgados dados do mercado de trabalho do Caged há pouco. Com esses dados, ainda há expectativa de continuidade de um mercado de trabalho mais resiliente no último trimestre também?

Vale – Veio um Caged mais fraco em outubro, e essa não era bem a ideia. A gente estava imaginando que fosse ter um cenário um pouco mais positivo para outubro, especialmente porque próximo de Natal costuma ter um resultado um pouco maior. Dá uma impressão de que talvez a gente tenha um quarto trimestre que possa ser já o início de um processo de desaceleração na economia um pouco maior, já vindo por conta desse aumento de juros que a gente está vendo agora.

Então é um cenário que a gente tem talvez um quarto trimestre que de fato vai ter um crescimento menor do que foi o segundo, terceiro trimestre, já dando um pouco de ideia de que a economia consegue crescer acima de 3%, mas é provável talvez que a partir do quarto trimestre comece a ter resultados um pouco piores na economia.

Inv.com – Como é que você viu as últimas revisões no boletim Focus, indicando uma inflação acima da meta, e com a expectativa de crescimento um pouco mais robusto, isso pode também acabar impactando ainda mais os indicadores inflacionários? Essa é a percepção para o ano?

Vale – É, e isso vai piorar. Esse anúncio fiscal hoje, provavelmente, pelo jeito vai ser bastante ruim, pelas sinalizações que estão vindo até agora. É um sinal de um câmbio que vai ficar pressionado, está caminhando para já se aproximar de R$6 por dólar e isso vai colocar uma pressão grande em inflação nos próximos meses e vai dificultar muito a vida do Banco Central.

Hoje todo mundo fala de Selic a 13%. Se, de fato, isso se consolidar, a gente vê já a taxa de câmbio indo para R$6, a gente rapidamente vai estar falando de Selic a 14%. Então é um cenário que o governo aparentemente não entendeu os riscos fiscais que a gente tem hoje e está errando o passo de novo normalmente nessa questão fiscal, com as consequências em termos de câmbio, inflação e juros.

Inv.com – Como é que você enxergou nessas notícias que saíram hoje em relação à possível anúncio de isenção do imposto de renda até R$5 mil?

Vale – É muito ruim porque o que se sabe é que a isenção, se você tiver uma taxação dos super ricos, não compensa o que vai se perder com a isenção até R$5 mil. Então é um sinal de desgaste por parte do governo porque ele está fazendo uma tentativa de ajuste de custos e gastos ao mesmo tempo que está fazendo uma sinalização de perda de receita num momento que a gente não deveria estar fazendo isso. Então é o pior cenário possível. O governo demorou para tentar entregar um resultado fiscal adequado e vai entregar um resultado bem pior do que se imaginava.

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