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Nomad: Eleições e fiscal também podem impactar visões sobre ciclo de cortes no Fed

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Investing

16 de set de 2024 às 15:25

Investing.com – Com a expectativa de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Federal Reserve nos Estados Unidos inicie o ciclo de cortes na taxa de juros americana nesta semana, a percepção da Nomad é que o colegiado deve optar por uma diminuição moderada para não causar ruídos no mercado, diante dos receios de uma recessão.

No que considera uma “hiperquarta”, e não mais uma “superquarta”, como o mercado chama o dia de decisões de juros nos EUA e no Brasil, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, entende que o chairman do Fed, Jerome Powell, deve ser protocolar e não dar deslizes se não for a intenção dar um guidance futuro.

“Nas palavras do Powell, nesse momento há menos peso no risco de alta da inflação do que no risco de alta de desemprego ou de enfraquecimento do mercado de trabalho. Então, todo mundo ficou muito de olho sobre o mercado de trabalho”, recorda o economista sobre as últimas comunicações de Powell, em especial o simpósio de Bancos Centrais realizado em Jackson Hole.

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Em entrevista ao Investing.com Brasil, Igliori apontou ainda que, além de dados do mercado de trabalho, inflação e alguns outros, o cenário político americano e indicativos dados pela eventual nova equipe econômica podem alterar as expectativas para a magnitude do ciclo de cortes por vir, principalmente em meio às preocupações com a situação fiscal.

“Trump está anunciando eventualmente cortes de impostos. Harris está anunciando eventualmente aumento de gastos. As duas coisas prejudicam o fiscal”, reforça o economista.

Leia a entrevista:

Investing.com – Após os dados de inflação, vocês consideram que um corte um pouco mais expressivo ainda está na mesa? Qual é a expectativa de vocês em relação à decisão da próxima semana?

Danilo Igliori – Tudo indica que vai ser 0,25 ponto percentual mesmo. Nas últimas comunicações, os membros do colegiado disseram que vai começar o ciclo, falaram todas as letras, mas não deram o guidance naquele momento de qual seria. Tem três coisas que a gente gosta de olhar quando começa um ciclo. Quando o ciclo começa, como ele começa e qual o tamanho.

Powell indicou que começa em setembro, mas não falou nada em relação ao que já estava na cabeça, ou que já tivesse mais ou menos pensado em termos, nem de quanto que cortaria no começo, nem de qual que seria a extensão, muito embora tenha uma pista, e a pista foi muito no sentido de acompanhar os temores que muitos analistas, economistas, o mercado estava tendo em torno da história da eventual recessão já iniciando, com uma desaceleração mais forte do mercado de trabalho.

Nas palavras do Powell, nesse momento há menos peso no risco de alta da inflação do que no risco de alta de desemprego ou de enfraquecimento do mercado de trabalho. Então, todo mundo ficou muito de olho sobre o mercado de trabalho.

Num contexto como o atual, o Fed subiu os juros bastante para controlar a inflação, depois manteve um ano de platô. Numa situação dessa, o mais esperado é que o começo seja moderado, seria um corte de 0,25.

Mas, nas últimas semanas, tudo balançou bastante. Se tiver dados de desemprego, dados de mercado de trabalho muito ruins, talvez o Fed se sinta obrigado a acelerar desde o início, com um corte de 0,50 p.p..

Sobre a inflação, tanto os números dessa semana, como no último PCE, não trouxeram muita novidade, vamos dizer assim. Então, continua caindo devagarinho, o núcleo é um pouco mais resistente, CPI e PPI, também muito em linha, não teve grande novidade.

O foco foi no relatório de emprego. Isso é interessante, a ferramenta de monitoramento de juros nos EUA, minutos antes de divulgar o relatório de emprego, estava com 70% no 0,25 p.p. e 30% de probabilidade nos anos 0,50 p.p..

Quando saiu o relatório de emprego, que foi difícil de ler, porque saem dois números importantes, a taxa de desemprego, o mercado esperava uma estabilidade, e veio uma quedinha. Então, a taxa de desemprego foi de 3,8% em abril, veio subindo, subindo, subindo, bateu 4,3% em julho, quando acendeu o alarme, acendeu a luz vermelha, as pessoas esperavam que ficasse 4,3%, e deu uma quedinha.

A taxa de desemprego não tem nenhum sinal de que a coisa está piorando rápido. Já o outro dado, que é o payroll, veio fraco de novo. Não tão fraco quanto o de julho, divulgado em agosto, mas veio fraco novamente.

Imediatamente após a divulgação, chacoalhou o mercado de juros. Inverteu. Ficou em torno de 60% para o corte de 0,50 p.p. e 40% para 0,25 p.p..

Mas, ao longo do dia, a coisa foi se reinvertendo e tiveram alguns discursos também de autoridades do FOMC que acalmaram os ânimos. A leitura, então, mais ponderada a partir dali, foi colocando cada vez mais peso no 0,25 p.p.. Em algum momento chegou a 85%, quase 90%.

Resumo da história, acho muito difícil o FOMC abrir com 0,50 p.p. porque tem mais um argumento nessa história que é o benefício da taxa de juros estar alta e, como os dados de mercado de trabalho não desandaram, vamos supor que passam a desandar, tem ali a reunião de novembro. Na reunião de novembro, é possível corrigir rotas.

Se a gente olhar de novo para os contratos futuros de julho, o que está contratado nas bolsas de mercado futuro são dois cortes de 0,50 p.p. depois desse 0,25 p.p. onde tem mais massa de probabilidade até a reunião de dezembro. Esses contratos de juros podem ser ajustados, quanto mais longe, maior a chance de mudar a história.

Mas hoje o que a gente tem é 0,25 p.p. agora e dois cortes de 0,50 p.p. levando para 4,25%. Muita água vai rolar depois de setembro, particularmente eleições na história, além dos dados. Mas diria que esse 0,25 está quase certo.

Inv.com – Com essa discussão toda se o FED estaria agindo tardiamente, se deveria ter cortado antes, com esses dados de mercado de trabalho já vindo mais preocupantes. O que você espera na comunicação do Powell? Ele vai tentar amenizar esses receios? O que você espera e o que ele deve falar, principalmente na coletiva de imprensa?

Igliori – Essa gestão do Powell, principalmente depois que veio a subida de juros, eles têm um protocolo muito estabelecido. Então ele reafirma os objetivos do Fed, do FOMC, o duplo mandato, fala que vai ser data dependent, com um conjunto enorme de dados, inclusive de expectativas. O Fed é bastante minucioso na análise de alguns pontos.

Inflação, obviamente, mercado de trabalho, condições financeiras e o que aparece a cada suas reuniões é alguma coisa sobre setor da construção. Eu acho que ele vem com um protocolo.

É um bom ponto que você falou sobre acalmar ou não o mercado, porque o 0,25 p.p., ele tem muito menos chance de gerar ruído do que o 0,50 p.p. Além disso, acho que não vai acontecer nessa reunião, quando de repente, de tempos em tempos, na entrevista, ele entrega alguma coisa. Eu acho que não é o que vai acontecer dessa vez. Acho que eles vão tomar muito cuidado. Porque, de fato, é uma situação bastante especial.

Reconhecidamente, eles começaram a subir os atrasados, subiram muito rápido, bastante, mantiveram o platô por um ano inteiro, e agora vão começar a cortar.

Então, é uma circunstância em que a gente está carinhosamente batizando essa quarta que vem de hiperquarta, não é só superquarta. Eu acho que vem bem protocolar.

Entendo que eles vão dizer que vão manter a política monetária no campo restritivo, embora já com a confiança suficiente para começar o ciclo de afrouxamento.

Inv.com – Qual o papel das eleições americanas neste cenário?

Igliori – O nosso cenário base não tem uma recessão, pelo menos não tem uma recessão importante ainda visível nos dados. Então, a gente acha que vai continuar com inflação devagarzinho indo para a meta. Não tem, no nosso radar hoje, alguma disrupção nos principais dados que eles monitoram.

Mas existem esses elementos das eleições e a gente não sabe como o FOMC vai reagir a eventuais declarações, possíveis cenários políticos. Se começar a ficar claro que alguém vai ganhar ou não, é muito possível que a gente tenha um momento de grande volatilidade. Uma parte dessa volatilidade vai estar no mercado de juros. E aí tem uma questão importante, que é a questão fiscal.

Todas as atenções estão para como vai ser esse ciclo. Hoje tem duas visões. Uma de que o ciclo pode vir e trazer para mais de 200 pontos base para baixo, ou seja, trazer a taxa para baixo de 3%, lembrando que o BCE acabou de ajustar a taxa para 3,50%. E outros acham que, pela questão fiscal, não vai ser possível cair abaixo de 3%. Porque tanto Kamala Harris como Donald Trump, às suas maneiras, não vão fazer grandes esforços para melhorar a situação fiscal.

Trump está anunciando eventualmente cortes de impostos. Harris está anunciando eventualmente aumento de gastos. As duas coisas prejudicam o fiscal. Acho que vai ter muita atenção no mercado para essa questão, principalmente iluminada pelo que vier de informação de equipe econômica, declaração dos candidatos e como que a corrida eleitoral se movimenta.

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